Saturday, July 21, 2018

No bau da minha avó

Foram muitos anos ouvindo histórias contadas e recontadas. Você já deve ter ouvido que quem conta um conto, aumenta um ponto. Vovó era assim.
Contava em detalhes as histórias da infância, os anos no convento, o namoro o casamento, a vida difícil no Rio de Janeiro, no tempo do bonde da praça Onze. Linda cheia de histórias, lágrimas e sorrisos.
Nem vou falar das gostosuras de toda avó. A minha nao era diferente.
Quase posso sentir o cheiro da sua cozinha.
Mas faz tempo que ela partiu, não sem antes me olhar profundamente, me deixar uma bolsa de crochê e um baú fechado.
Dor, saudades, alívio. Certeza da vida após a morte.
O tempo passou, perdi as toalhas, mas reencontrei o baú. Uma caixinha cheia de histórias. Cartas sobre cartas, entre ela e a mãe, entre ela e o namorado, entre ela e ela mesmo. Me perdi naquelas memórias, chorei, sorri, fiz como ela fazia, contava e recontava.
Não sei onde as guardei, mas carrego comigo a memória daquele baú de cartas para que eu possa sempre reler no pensamento e no coração.
Sem esquecer que ela dizia: _ Filha, palavras da boca o vento leva, mas o que se escreve se faz eterno.

Tuesday, July 17, 2018

Eu te abraço Vitória



Estávamos saindo da visita de médico que fizemos a nossa família em Vitória-ES, quando passamos pela vistoria das malas. Bolsas, laptops, telefones, tudo para fora a escorregar pelo túnel que diz se você está apto ou não para embarcar. Máquina bendita! que sempre nos distrai do momento da despedida nos aeroportos.
Deixei ali um pedacinho de mim. Vitória é assim.
Um pedaço da minha infância, da banana da terra, da moqueca que não é peixada.
Esse ritual era da minha mãe, mas por fidelidade e honra ao amor dela a essa parte da família, também os amo e volto a Vitória desde que a mamãe partiu, e que para lá, pela mão, não pode mais me levar.
Volto a Vitória como quem quer resgatar as memórias de uma vida bela, amorosa e divertida das férias mais esperadas da infância.
Hoje, levo meus filhos pela mão, apresento a familia, a moqueca que não é peixada, a banana da terra, e a fabrica Garoto. Não esqueço do convento no alto do morro, onde reflito a vida e celebro as memórias daquele lugar.
E nesta última semana ao passar pelo tal detector de metais, do aeroporto reformado, coração partido, mas renovado, vejo uma grande janela de vidro. Meu filho corre, olha para as montanhas através da janela e estende os braços!
Desta vez é ele quem te abraça, Vitória!